quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Produtores de peixes ornamentais encontram riqueza em água doce




Estima-se que a cadeia produtiva de peixes ornamentais movimente, por ano, mais de US$ 15 bilhões no mundo, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No Brasil, as exportações geraram U$ 10,5 milhões em 2013, de acordo com a Agência Nacional de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex Brasil). Para especialistas do setor, o país tem grande potencial de crescimento, sobretudo em regiões como a Zona da Mata mineira, onde, desde a década de 1980, a atividade vem sendo desenvolvida por pequenos produtores rurais.

Para fortalecer o segmento, que é fonte de renda para cerca de 500 famílias locais, no final de 2012, o Sebrae Minas iniciou um projeto na região. Os principais objetivos são organizar os produtores e suprir a carência por informações técnicas e legislação ambiental na área. O projeto reúne 60 participantes, que já contabilizam resultados com os trabalhos.

Morador da comunidade de Pouso Alegre, em Patrocínio do Muriaé, Deidison de Barros Rosa é integrante do projeto e um dos 80 produtores da pequena região formada pelo município e pelo vizinho Barão de Monte Alto. Aos 27 anos, o jovem comemora o bom crescimento de sua produção, dedicada à espécie Betta, uma das mais populares no comércio de peixes ornamentais.

Com apenas seis anos na atividade, ele é um exemplo das vantagens do negócio, que exige investimento relativamente baixo e proporciona rápido retorno financeiro. "Meu pai sempre trabalhou com gado e eu o ajudava. Ao conhecer pessoas que lidavam com a produção de peixes ornamentais por aqui, resolvi vender uma novilha que ganhei para investir no negócio. Na época, apliquei R$ 1.200 na construção de uma estufa e na compra de matrizes dos bettas", recorda.

As características que definem a beleza e singularidade de um betta são a cor, o tamanho e o formato da cauda, que, caso esteja cortada, faz com que o peixe perca seu valor mercadológico. Como ele necessita viver em alta temperatura, os produtores optam por construir tanques, de barro ou de alvenaria, dentro de estufas parecidas com as usadas para o cultivo de plantas. Antes, a estufa era feita com a base de bambu, mas evoluiu para peças metálicas, que, apesar de terem um custo maior, são mais resistentes.

Atualmente, Deidison Rosa possui 150 metros corridos de área construída, com capacidade para produzir cerca de seis mil bettas por mês, vendidos a R$ 1 cada, no caso dos machos, e R$ 0,12, as fêmeas. Os gastos mensais com a produção ficam em torno de R$ 1 mil, o que inclui a compra de ração, adubo e sacolas plásticas para embalar os peixes. Por sua natureza carnívora, o betta macho não pode ficar em contato com outro exemplar de sua espécie, por isso, os animais devem ser embalados separadamente para a venda.

Ainda neste ano, os negócios vão ser expandidos. Isso porque o produtor, cuja produção é feita em uma área terceirizada, acaba de adquirir um terreno próprio para a construção de novos tanques. O projeto do Sebrae Minas tem sido fundamental nessa evolução. "Os consultores estão nos trazendo novas ideias e apresentando o mercado. Antes, ficávamos apenas na roça e trabalhávamos exatamente como o pessoal mais antigo. Agora, já temos uma noção melhor de como funcionam as vendas e do que pode ser feito para melhorar o resultado", aponta.

Deidison Rosa destaca a participação nas Clínicas Tecnológicas, encontros promovidos pelo Sebrae Minas junto à Universidade Federal de Viçosa (UFV), nos quais foram apresentados aos produtores, entre outros temas, informações sobre nutrição dos peixes e manejo da água. "Substituí o adubo orgânico pelo químico, o que já tem melhorado a qualidade dos peixes e diminuído as perdas por contaminação da água. Outra mudança foi a redução do número de peixes que coloco em cada tanque, o que facilitou o controle da produção", enumera.

Outro ponto importante é o fortalecimento que o projeto tem proporcionado à Associação dos Aquicultores de Patrocínio do Muriaé e Barão de Monte Alto (Aquipan). Por meio do programa Cultura da Cooperação, do Sebrae Minas, os produtores estão conhecendo as vantagens do trabalho em conjunto. "Fizemos nossa primeira compra coletiva de sacolas após as reuniões com os consultores. Conseguimos o preço de R$ 10,50 pelo quilo, direto da fábrica, e, com isso, economizamos quase R$ 5 por quilo", comemora Deidson Rosa.

O analista do Sebrae Minas Jefferson Santos vê nesta mudança de gestão uma importante conquista. Segundo ele, grande parte dos produtores atua de maneira informal, o que dificulta a reunião de dados oficiais sobre a atividade na região. "A criação do grupo é um primeiro passo para organização do setor, o que facilitará, entre outros pontos, conhecer melhor as demandas dos produtores", afirma.

Segurança para trabalhar

Há 26 anos no ramo de peixes ornamentais, Márcio Rogério Onibene Oliveira, de São Francisco do Glória, iniciou a produção de forma tímida, somente com quatro espécies cultivadas. Atualmente, ele trabalha com 120 tipos de peixes, e vende quase 70 mil unidades a cada semana. Segundo Márcio, antes do projeto do Sebrae Minas, muitos produtores da região estavam prestes a abandonar o negócio devido às dificuldades para enfrentar os processos burocráticos que envolvem o licenciamento ambiental.

"Não existe uma legislação específica para peixes ornamentais e como os órgãos seguem as regras da piscicultura de corte, há muitas dúvidas quanto à produção. Os produtores menores não tinham orientação sobre a licença e, muitas vezes, o processo ficava parado por falta de informação", recorda.

Durante as reuniões do grupo, surgiu a proposta de criar a Associação dos Aquicultores do Vale do Glória, que hoje reúne 104 produtores. "Com a criação da entidade, eles perceberam que não estavam sozinhos, que os problemas eram iguais entre o grupo. O Sebrae Minas nos ajudou a entrar em contato com os órgãos ambientais e, agora, estamos mais mobilizados para as discussões", enfatiza Márcio Oliveira.

De acordo com ele, o grupo também fez uma compra coletiva de sal, que é usado para tratar doenças dos animais. "Queremos também fazer a compra coletiva de sacolas, o que ajudará bastante a reduzir os custos, principalmente para os pequenos produtores." A troca de informações técnicas e experiências durante as Clínicas Tecnológicas possibilitaram, ainda, a disseminação de conhecimento entre os associados.

"São pequenas atitudes que ajudam a reduzir perdas e aumentar a qualidade. Apenas com a mudança na quantidade de ração que colocamos para os peixes, tivemos uma economia de 30%, além de animais mais nutridos", observa Márcio Oliveira.

Outro ganho da Associação dos Aquicultores foi a negociação de um empréstimo junto ao Banco do Brasil, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que beneficiou cem produtores com o recurso de R$ 10 mil. O investimento possibilitou que pequenos aquicultores, como Vicente Protásio de Paiva, investissem na ampliação da produção. Com 20 anos de experiência no ramo, o morador de São Francisco do Glória revela que já trabalhou com a criação de aves e suínos, mas foi com os peixes ornamentais que conseguiu se estabelecer.

Com o empréstimo, ele construiu 17 tanques usados para o cultivo da espécie molinésia prata, que é vendida a R$ 0,50 a unidade. "Há dois anos, o processo de licenciamento da minha propriedade estava parado, mas, com o auxílio da associação e do Sebrae Minas, consegui fazer as adequações necessárias para me legalizar. Agora, eu e os meus companheiros temos a oportunidade de aprender melhor sobre aquicultura, principalmente com o contato com profissionais da área", diz.

Peixes premiados

Em novembro de 2013, o Sebrae Minas promoveu uma missão técnica com os produtores participantes do projeto ao Enabettas, realizado anualmente pela Associação dos Aquicultores Ornamentais do Estado do Rio de Janeiro (Aquorio). O evento, que reúne produtores, lojistas, estudantes e profissionais da área, além de proporcionar intercâmbio entre pessoas do segmento, é palco para a escolha dos melhores bettas do país.

Na edição, foram mais de 400 peixes inscritos em 48 categorias. Os mineiros voltaram para casa com 22 premiações, entre elas, a de terceiro melhor betta do Brasil, conquistado pelo produtor Deidison Rosa. O exemplar apresentado por ele no evento faz parte de uma produção controlada desenvolvida em parceria com o veterinário e produtor Gabriel Miranda Batista.

"Cada um contribui com sua expertise: eu, com meu conhecimento na área de genética dos peixes, e o Deidison Rosa, com a técnica e infraestrutura para produção. Chamamos esses bettas de peixes de linhagem. Fizemos os cruzamentos de matrizes para produzirmos tipos diferenciados e de maior valor", comenta Gabriel Batista.

O valor do casal de peixes produzidos a partir do melhoramento genético pode chegar a R$ 300. "É um mercado que tem crescido muito, junto com o de paisagismo e decoração." Ele explica que as vendas são feitas, geralmente, pela internet, já direcionadas ao público de maior poder aquisitivo.

Para saber mais

Peixes ornamentais na Zona da Mata

Produtores: Mais de 500

O projeto 

Municípios: Barão do Monte Alto, Eugenópolis, Miradouro, Muriaé, Patrocínio do Muriaé, São Francisco do Glória e Vieiras

Produtores participantes: 60

Principais resultados: Licenciamento ambiental de, aproximadamente, 40 produtores; Conquista de 22 prêmios no Encontro Nacional de Bettas em 2013 para a região de Muriaé; Realização de pequenas compras em conjunto de insumos; Melhoria na cultura da cooperação entre os produtores; Redução de custos e de perdas com aperfeiçoamento técnico da produção

FONTE

Sebrae Minas

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