terça-feira, 21 de outubro de 2014

Leões afugentados com celulares mostram boom da tecnologia na África



31 de julho — Quando Emily Parsitau queria iluminar sua casa para afugentar leões ou intrusos, ela tinha que andar uma hora para comprar querosene na loja mais próxima. Agora, ela utiliza um cartão SIM.

A casa de quatro quartos da fazendeira em Kisamis, área rural na margem do Vale do Rift na Quênia, nunca teve acesso à rede elétrica nacional e ela dependia de lampiões de querosene, quando conseguia o combustível, para iluminar o caminho até o gado, que atraía predadores e ladrões. Tudo mudou em março quando ela comprou o M-Kopa Solar, um sistema de iluminação com energia solar que usa tecnologia celular para acompanhar o uso e armazena energia para quando sua casa e sua trilha precisam ser iluminadas.

“Antes de comprar as lâmpadas, eu tinha medo dos leões”, disse a mulher de 42 anos, que tem seis filhos, no apertado espaço de sua sala de estar sob um teto manchado de fumaça de querosene. “Eles atacavam nosso gado no meio da escuridão. Agora os leões mal aparecem por causa da iluminação”. Seus filhos agora podem acabar a lição de casa usando a luz em vez de ficar lutando com a escuridão como antes, disse ela.

A tecnologia móvel está revolucionando a vida de muitas das mais de 1 bilhão de pessoas na África para quem serviços como banco, internet e energia acessível antes eram considerados luxos e não itens básicos. E agora que as operadoras estão criando seus próprios smartphones baratos, o continente com a população mais jovem do mundo logo terá acesso a redes 4G e aplicativos que alimentarão um boom de consumo que está impulsionando o crescimento econômico da África.

‘Importância extra’

“O impacto dos celulares foi muito maior em grande parte da África subsaariana porque muito da infraestrutura com a qual as pessoas das economias mais desenvolvidas já estão acostumadas aqui não existe”, disse Matthew Reed, analista principal para o Oriente Médio e a África da consultoria de pesquisas sobre telecomunicações Ovum em Londres. “Os celulares têm importância extra porque conseguiram fechar algumas dessas brechas”.

A Safaricom Ltd., 40 por cento da qual é propriedade da Vodafone Group Plc e pioneira no serviço de transferências de dinheiro por celular M-Pesa, é uma das razões pelas quais Parsitau tem menos medo na hora de sair de casa à noite. A maior operadora de celulares do leste da África está ajudando a comercializar o M-Kopa, que usa um cartão SIM inserido na bateria do dispositivo de iluminação para monitorar o uso e os pagamentos, com o objetivo de vender energia a moradores de comunidades rurais.

A MTN Group e a Vodacom Group Ltd., as duas maiores empresas de telefonia da África do Sul, com 252 milhões de clientes na África entre as duas, desenvolveram smartphones que custam menos de US$ 100 para impulsionar a receita com dados. Elas oferecem a uma classe média em expansão acesso a varejistas on-line, redes sociais e conteúdos como o serviço de streaming de música Spotify.

Banco móvel

A Vodacom está se beneficiando com o crescimento dos seus dados e negócios em outros lugares da África. Boa parte disso está sendo impulsionada pelo M-Pesa, que levou o banco para dezenas de milhões de africanos. Todos os dias o sistema processa mais transações dentro do Quênia do que a Western Union Co. no mundo, segundo o FMI.

Desde que Parsitau comprou o sistema, ela não precisa mais fazer a viagem de ida e volta de duas horas até um rio do vale para encher garrafões de água que depois ela levava para casa no lombo de um burro. Se o rio estava seco, ela tinha que gastar cerca de 200 shillings (US$ 2,3) para ir de minibus até Kiserian, a aproximadamente 20 quilômetros, para conseguir água. Agora ela usa o dinheiro para comprar água tratada de um poço.

“Desde que nós compramos essas lâmpadas a nossa vida melhorou muito”, disse ela. “Antigamente eu tinha medo à noite porque eu não podia ver se um intruso ou até mesmo uma cobra tinha entrado em casa. Mas hoje, graças às lâmpadas, eu posso andar sem medo em casa”.

Título em inglês: &aposWarding Off Lions With Cell Phones Shows African Technology Boom&apos

Para entrar em contato com os repórteres: Christopher Spillane, em Johanesburgo, cspillane3@bloomberg.net; Charles Wachira, em Nairóbi, cwachira@bloomberg.net

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