segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Oklahoma teve cidade redesenhada para emagrecer

Julio Lamas, do http://planetasustentavel.abril.com.br/

Uma das características que contribuíram para a obesidade em Oklahoma City é o seu planejamento, que estimula o uso do carro particular

Mick Cornett: o próprio prefeito de Oklahoma CIty está 20 kg mais magro agora

São Paulo - Em 2007, quando o republicano Mick Cornett, prefeito de Oklahoma City, lançou na frente da jaula dos elefantes do zoológico municipal uma campanha ousada para promover uma dieta coletiva entre seus habitantes, a cidade ocupava a 15ª posição no ranking de fatores para a obesidade nos EUA, segundo a revista Men’s Health.

Inclusive, o próprio Cornett se encontrava como um dos contribuintes para esta estatística.





Com 1,82 m de altura e pesando cerca de 100 quilos, seu Índice de Massa Corporal (IMC) estava no limite entre o “acima do peso” e o início da obesidade (30,19 kg/cm²).

Cinco anos depois e com 47 mil inscritos no programa This City is Going On a Diet (na tradução, “Esta cidade está entrando em uma dieta”), a capital do estado de Oklahoma anunciou a perda compartilhada de 500 mil toneladas.

A conquista contou com o apoio de empresas e também de redes de fast food – caso do Taco Bells – , que competiam para saber qual perderia mais peso entre os seus funcionários.

O equivalente a 100 elefantes mais magra, a cidade se tornou um exemplo de combate à obesidade nos EUA e criou um fundo de US$970 milhões para o seu replanejamento urbano com o aumento de um centavo nos impostos dos produtos, apoiado pela população e o setor privado.

Perder peso era a apenas primeira parte do projeto da prefeitura para tornar os habitantes menos sedentários.

Hoje, Cornett amplia esse estilo de vida mais saudável aplicando em investimentos públicos voltados para a mobilidade de pedestres e ciclistas.

Desde 2012, a cidade criou ciclovias, calçadas mais amplas e trilhas, além de um novo parque e um sistema de bonde na sua área central.

Assim como ter pratos tradicionais como frango frito e torta de pecã, uma das características que contribuíram para a obesidade em Oklahoma City é o seu planejamento, que estimula o uso do carro particular.

“Eu me dei conta de que tínhamos construído uma qualidade de vida ótima aqui, mas só se você está em um carro”, disse Cornett em uma entrevista.

Como em muitas cidades, a cultura do carro particular foi priorizada durante décadas em detrimento de modais alternativos que gastam mais calorias, como caminhar e pedalar.

Com efeito, em 2008, a cidade foi eleita pela mídia especializada em saúde a “pior cidade para andar nos EUA” ao mesmo tempo em que a epidemia de obesidade atinge 32,5% dos adultos de seu estado, de acordo com o Trust For America’s Health.

Um ganho de peso significativo em relação a 1990, quando 10% da população sofria com a doença.

O prefeito, ele mesmo 20 kg mais magro agora, afirma que o sucesso da campanha de conscientização sobre a obesidade ajudou a conquistar a aprovação política dos eleitores para redesenhar a cidade para as pessoas e não para os carros.

Até o final do ano que vem, Oklahoma City pretende colocar em prática um novo Plano Diretor, que cria mais espaços para a locomoção sem carro e áreas verdes para esportes e lazer.

Com isso, a ideia é também atrair mais jovens talentos com a perspectiva de uma vida mais sustentável e saudável, conta Cornett.

“A cidade está trabalhando para atrair mais millenials que compreendem melhor a importância de ciclovias e parques para qualidade de vida na cidade”, afirma ele em uma palestra para o TED. https://www.youtube.com/watch?v=6YKi7jOgA-o

Nos EUA, onde 70% da população está acima do peso recomendado e são gastos US$ 93 bilhões anualmente com tratamentos de doenças relacionadas, segundo a publicação científica Lancet, um planejamento para combater a contribuição do automóvel para o sedentarismo é bem vindo.

Seria bom também considerar esse benefício urbanístico nas metrópoles brasileiras, onde 58% da população está acima do peso.

Apenas na “carrocêntrica” capital paulista, o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP estima que 66,3% das pessoas esteja com sobrepeso, sendo 30% delas obesas.

Este pode ser um ótimo argumento em defesa das ciclovias e calçadas em São Paulo, cujo novo Plano Diretor limita gradualmente espaços para os automóveis nas ruas.

Além disso, a prefeitura iniciou durante a última semana uma série de intervenções para pedestres no centro antigo da cidade através do projeto Centro Aberto.

Com consultoria do escritório do urbanista dinamarquês Jan Gehl, a proposta é aumentar a atratividade de áreas para pedestres em locais como o Largo do Paiçandu e a Avenida São João.

Se a população aprovar, o ganho é duplo: mais espaços para caminhar e menos efeitos prejudiciais e onerosos do sedentarismo e da poluição para a saúde.



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