Eles têm pigmentação escura e hifas segmentadas e por isso são chamados de dark septade ou septados escuros. Trata-se de um tipo de fungo, mas não exatamente um tipo qualquer. São fungos benéficos ao desenvolvimento de plantas. Exatamente por essas características, eles vêm sendo alvo dos estudos da equipe coordenada pelo pesquisador Jerri Édson Zilli, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). "Presentes no ambiente, esse grupo de fungos coloniza tecidos e muitas vezes vive no interior das plantas, estimulando seu crescimento."
Como explica Zilli, que é Jovem Cientista do Nosso Estado, da Faperj, os dark septate apresentam ampla distribuição geográfica e, com frequência, ocorrem em ambientes estressantes, seja em solos pobres ou com pouca disponibilidade de água. Mas é aí também que suas características se tornam mais importantes. "Embora ocorram com frequência em florestas de clima temperado, onde se mostram colonizadores de espécies arbóreas, também são capazes de se associar a gramíneas, como arroz, milho, cana de açúcar entre outros, que são espécies importantes para a alimentação dos brasileiros", afirma. Jerri.
Já conhecidos na literatura científica -- embora sejam menos estudados nos trópicos --, os dark septade não são considerados classicamente como fungos micorrízicos, ou seja, aqueles que vivem em perfeita simbiose com várias espécies de plantas, numa união em que ambos saem ganhando. Nas plantas colonizadas por fungos micorrízicos, eles passam a contar com uma fonte constante de açúcares para sua sobrevivência, enquanto, de outro lado, as plantas melhoram sua absorção de água, sua nutrição mineral e possivelmente sua resistência a agentes patogênicos.
Para o pesquisador, os dark septade podem ter mecanismos sutilmente diferentes dos micorrízicos. "Possivelmente, o fungo facilita a absorção de nitrogênio e fósforo pela planta. Mas queremos comprovar se eles realmente absorvem e transferem nutrientes -- como fazem os fungos micorrízicos -- ou se estimulam fisiologicamente a planta a absorver uma maior quantidade de nutrientes." Embora seja uma diferença sutil, é também possível que o fungo leve a planta a extrair, de forma mais eficiente, nutrientes mesmo em ambientes pobres. "Na prática, isso significa uma planta mais vigorosa", explica..
Para comprovar sua hipótese, Zilli vem estudando isolados de dark septate, obtidos a partir do arroz silvestre Oryza glumaepatula, da Amazônia. Em seu laboratório, ele procurou analisar a capacidade de dez isolados fúngicos colonizarem as raízes e promoverem o crescimento de plantas de tomate e de arroz. O pesquisador avaliou ainda sua capacidade de facilitarem a absorção de nitrogênio e fósforo às plantas.
"Observando alguns isolados de dark septade, pudemos perceber que, com a presença do fungo, plantas de arroz tinham um crescimento 30% maior, seja em sua parte aérea, seja nas raízes", constatou. Outra tendência observada foi a do perfilhamento. Ao serem inoculadas com o fungo, as plantas aumentaram os perfilhos em cerca de 50%, o que nos indica uma maior capacidade de produção de grãos."
Zilli e equipe continuam analisando os mecanismos de funcionamento dos fungos para melhor avaliar seu uso. "Estamos fechando este ciclo para chegar aos melhores isolados fúngicos. Até o final do ano, faremos testes em vasos para ver não apenas o crescimento da planta como também sua produção de grãos. Uma vez confirmados os resultados obtidos em laboratório, podemos passar a uma próxima etapa, levando os testes a campo."
Os experimentos estão sendo realizados tanto em condições normais quanto em situações de estresse hídrico. "Alguns isolados conseguem aliviar esse estresse. Observamos que, quando inoculada com fungos, o desenvolvimento da planta se torna semelhante ao de outra cultivada em condições normais, mas é preciso frisar que se trata de uma situação de laboratório. Em campo, podemos chegar a resultados diferentes", ressalva. Mesmo assim, Zilli está animado em levar adiante o projeto e obter essas respostas. "Na literatura, fala-se que a presença do fungo aumenta a resistência da planta a patógenos. Isso ainda precisa ser testado."
Zilli também vem estudando bactérias diazotróficas -- fixadoras de nitrogênio atmosférico -- ou estimuladoras de crescimento, por meio da fixação de nitrogênio. "Elas absorvem nitrogênio do ar e o quebram em moléculas que permitem sua utilização pelas plantas. Vale destacar que o Brasil é líder mundial no uso de bactérias fixadoras de nitrogênio na agricultura, e a economia resultante dessa utilização é superior a R$ 8 bilhões de dólares anualmente."
Como frisa o pesquisador, em Seropédica, a Embrapa Agrobiologia vem tendo, ao longo das últimas décadas, um papel preponderante em pesquisas na área de promoção de crescimento vegetal. "Mantemos uma coleção de culturas com mais de 3.000 micro-organismos conservados", entusiasma-se. No que depender de Zilli, fungos e bactérias continuarão cada vez mais firmemente a serviço de uma agricultura mais produtiva e mais saudável.
FONTE
Faperj
Vilma Homero - Jornalista
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