Foto: Sérgio Alberto/Agência CNT |
A forma mais natural de deslocamento é caminhar. Para se ter uma ideia, somente na Região Metropolitana de São Paulo, as viagens realizadas a pé somam 12,7 milhões de km por dia. Se somados os trajetos percorridos entre os trechos motorizados, o índice chega a 26,6 milhões de km, segundo dados compilados pela ANTP (Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros).
A estimativa é que 34% das viagens sejam feitas a pé. Contudo, na maior parte das vezes, o planejamento urbano ignora esse fato e prioriza, na construção dos espaços, o transporte motorizado.
Na avaliação de especialistas, esse processo deve ser alterado, a fim de elevar a qualidade de vida da população, a interação entre as pessoas e promover ambientes mais civilizados. O tema foi discutido durante o II Seminário Internacional Mobilidade e Transportes, que ocorre em Brasília (DF).
"A interação entre as pessoas é realmente importante para uma sociedade melhor, porque é como indivíduos de diversas culturas podem agir por um propósito comum. E onde as pessoas interagem? Nas cidades. É por isso que elas devem ser mais atrativas", disse Nick Tyler, da University College London.
Para o especialista, uma das formas de garantir espaços urbanos mais acolhedores para as pessoas e estimular os percursos a pé é distribuir as atividades às quais a população necessita ter acesso por todo o território urbano: emprego, educação, saúde, ambientes intelectuais, entre outros. Isso promove ambientes mais saudáveis, seguros e estimulantes.
Ele lembrou, também, a importância de se pensar a cidade como espaço público. "A quem pertence esse espaço?", questionou o pesquisador ao defender que as ruas e calçadas devem ser planejadas com acessibilidade e garantir a segurança. Destacou, ainda, que o desenho urbano precisa ser flexível para que possa ser adaptado às mudanças sociais. "As pessoas mudam todos os dias e precisamos compreender o que as futuras gerações precisarão", disse Tyler.
Embora a popularização dos carros tenha ocorrido principalmente na segunda metade do século XX, a pouca atenção dada aos pedestres no planejamento das cidades é um fenômeno bem mais antigo.
Estudo elaborado pela pesquisadora Monica Gondim, da UnB (Universidade de Brasília), identificou o planejamento de cidades antigas já mais adequadas para o fluxo de outras formas de transporte que não a pé. "Os significados e valores atribuídos aos deslocamentos de pedestres e veículos são ancestrais e não um fenômeno da sociedade industrial. Assim, o planejamento para automóveis é bem mais antigo que o planejamento para pedestres", disse Monica.
Uma pesquisa elaborada pela arquiteta e urbanista, Ana Paula Borba Gonçalves, aponta que a forma das cidades interfere na opção pelo transporte a pé. Ela ouviu 1,5 mil pessoas, a maioria no Brasil e em Portugal para identificar de que maneira a forma das cidades interfere nessa decisão.
"As pessoas olham o espaço urbano de uma forma negativa", disse. Ela ainda ressaltou que há uma série de estratégias que podem ser utilizadas para estimular o uso das ruas para viagens a pé. "É possível estimular portas nos andares térreos, trabalhar com a dinâmica das fachadas para evitar a monotonia e estimular o olhar das pessoas, permitir a convivência entre diversos fluxos nas mesmas áreas - de pedestres, bicicletas e carros -, proporcionar maior diversidade de atividades, limitar a altura de edifícios, limitar espaços muito abertos, que são menos convidativos e garantir a acessibilidade", enumerou.
O II Seminário Internacional Mobilidade e Transportes teve início nessa segunda-feira (20) e segue até esta quinta (23). Com o tema "Mobilidade para Cidades Sustentáveis", o evento ocorre na Câmara dos Deputados.
Natália Pianegonda
Agência CNT de Notícias
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