Vista aérea de favela no bairro do Morumbi, em São Paulo. / AP |
“A Europa se construiu durante séculos e, portanto, suas cidades foram se adaptando às necessidades de seus habitantes”, destaca Velásquez. Na América Latina, por outro lado, elas se consolidaram nos últimos 50 anos com escasso planejamento urbanístico. Isso levou ao surgimento de extensas periferias, segregadas e desconectadas entre si. No outro extremo está a África, onde apenas 30% das áreas nas cidades estão devidamente urbanizadas, segundo dados da ONU, e 61,7% da população subsaariana vive em bairros precários. As ruas ocupam apenas 2,2% do espaço metropolitano, enquanto em cidades bem planejadas tal cobertura chega a 35%.
Um de cada quatro latino-americanos vive em assentamentos não planejados.
Na América Latina, uma em cada quatro moradores de zonas urbanas vive em assentamentos não planejados, o que significa que estão distantes de quase tudo. Quem vive em áreas afastadas do centro precisa realizar longos deslocamentos para chegar a escolas, empregos e hospitais. E essas pessoas precisam, além do mais, usar um transporte público – geralmente em más condições – ou perder uma média de três horas por dia dentro de um carro. A África enfrenta um problema similar: metade das pessoas mora em assentamentos irregulares. Entretanto, países como Egito, Líbia e Tunísia puseram mãos à obra e implementaram projetos para reduzir a área dos subúrbios.
Elkin Velásquez, diretor da entidade ONU-Habitat para a América Latina e o Caribe, durante visita a Madri. / BERNARDO PÉREZ |
“A Cidade do México é o exemplo de uma metrópole extensa, segregada e com um transporte coletivo ineficiente”, afirma o especialista. A capital mexicana, com mais de 20 milhões de habitantes (São Paulo tem 11,9 milhões), revela muitos dos desafios da América Latina. O primeiro, de tornar a cidade mais compacta. Os latino-americanos costumam sonhar com uma moradia unifamiliar, diz Velásquez, acrescentando: “Não há solo nem recursos energéticos suficientes. As construções verticais começam a ser uma necessidade”. O segundo desafio é recuperar os espaços públicos. O que significa isso? Que essas áreas tenham comércios, parques, transporte, escolas, escritórios públicos e privados, indústria e uma mistura de classes sociais. O atual modelo de “planejamento”, entretanto, vai em direção contrária.
Mas há lugares onde as coisas já estão mudando. Velásquez menciona alguns: “Santiago [Chile] tem um plano para recuperar os bairros centrais e lhes devolver a vida. Em Medellín [Colômbia], o bairro Juan Bobo, que era considerado um dos mais inseguros até 2004, melhorou graças à criação de espaços públicos e moradias dignas”. Esses projetos acabam se transformando em exemplos para outras cidades. Port Moresby (Papua-Nova Guiné), por exemplo, se inspirou nas iniciativas de Durban (África do Sul) para o combate à criminalidade, e a gestão hídrica urbana em Katmandu (Nepal) é exportável para a América Latina.
Outros projetos influentes foram realizados em São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. Velásquez lamenta que a reordenação das cidades não seja uma prioridade para os Governos. Mas admite que algo está mudando: “Há 10 anos nem sequer se discutia sobre o desenvolvimento sustentável, e agora algumas cidades já o contemplam. É um avanço, embora continue sendo um desafio para as grandes cidades”.
Fonte
http://brasil.elpais.com/
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