Jerome Michaud-Lariviere estava sentado num jardim num dia aparentemente sem vento, quando, de repente, uma ideia lhe ocorreu. Apesar da quietude ao seu redor, ele percebeu que as folhas das árvores se moviam, e logo pensou: “Há energia ali, por que não aproveitá-la?”
Daí surgiu a chamada árvore eólica. A empresa de Michaud-Lariviere, a NewWind (“Novos Ventos”, em tradução livre) já construiu dois protótipos utilizando princípios da biometria, ou seja, imitando a natureza para solucionar problemas.
No pequeno escritório da NewWind em Paris, a gerente de estudos aerodinâmicos Julia Revuz mostra um cone verde de 70 centímetros de altura, a chamada “aerofolha”. Trata-se de uma turbina eólica do tipo Savonius, inventada pelo finlandês Sigurd Johannes Savonius em 1922.
Numa árvore eólica de design italiano, o tronco e os galhos são feitos de metal prateado e há 72 “aerofolhas”. O tamanho dessas miniturbinas e o fato delas girarem em torno de seu próprio eixo proporcionam duas vantagens fundamentais em relação aos modelos convencionais: elas são silenciosas e possuem um tempo rápido de reação. “Quando a velocidade do vento varia, a turbina eólica consegue se adaptar”, diz Revuz.
Energia eólica nas cidades
A França tem cerca de 2 mil usinas eólicas e planeja construir outras 8 mil, tanto no interior do país quanto offshore (em alto mar). Entretanto, algumas cidades já demonstram interesse nas árvores eólicas como forma de gerar energia para os centros urbanos.
Anne Ged é diretora da Agência do Clima de Paris, que planeja dobrar a parcela da energia renovável na matriz energética da capital francesa, chegando a 25% até 2020.
Ela vê as árvores eólicas de maneira positiva, afirmando que elas poderão servir como uma espécie de vitrine para a energia renovável. “Precisamos de artefatos atraentes nos espaços públicos para aumentar a conscientização sobre energia renovável”, diz.
A NewWind estima que uma árvore eólica deverá custar cerca de 25 mil euros (cerca de 84.850 reais). Cada uma produziria energia suficiente para abastecer o equivalente a 15 postes de luz ou uma estação de abastecimento de carros elétricos ou ainda uma pequena residência, excluindo-se o aquecimento.
A empresa diz que as árvores eólicas irão produzir eletricidade ao preço de 32 centavos de euro por quilowatt, que considera “competitivo”. Mas mesmo que saia a um preço mais alto do que a média do mercado, Ged diz valeria a pena investir nas árvores eólicas em cidades como Paris, Londres ou Berlim, que já manifestaram interesse pelo artefato.
“Quando falamos em inovação, não faz sentido pensar em retorno a curto prazo”, diz. “Mas essa inovação poderá resultar em outras ideias que podem beneficiar outras tecnologias ou processos, levando a um modelo comercial mais eficiente.”
“Meia verdade”
Alexandre Gady, presidente da Sociedade para a Proteção de Paisagens e Estética na França, se opõe ao que descreve como a natureza deformadora das usinas eólicas. Ele diz que esse tipo de energia floresceu porque as pessoas a veem como uma alternativa limpa às fontes de energia convencionais. Entretanto, ele insiste que isso é apenas uma meia verdade, porque a natureza intermitente dessa fonte de energia significa que sempre haverá a necessidade de combustíveis fósseis ou da energia nuclear como reserva.
Apesar disso, Gady vê as inovadoras estruturas arbóreas como um avanço em termos de usinas eólicas. “A escala é bem menor e mais sedutora” quando comparada à das usinas convencionais, “cujas turbinas medem até 150 metros da base até o topo da lâmina”, observa.
Ele também aprecia o componente artístico da árvore eólica, que, em sua opinião, é uma tentativa de construir algo que possa se encaixar na paisagem. As árvores poderão contribuir para aumentar a aceitação da energia eólica na França, que, segundo Gady, lida com mais processos legais visando o deslocamento ou o desmantelamento das usinas eólicas do que qualquer outro país do mundo.
Um protótipo da árvore eólica será instalado em Paris antes da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), que será realizada na cidade em dezembro de 2015. A esperança é que o modelo dissemine a ideia inovadora pelo mundo.
FONTE: Deutsche Welle
Autoria: John Laurenson
www.prohumanitas.org.br
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